17.10.09

Em meio às flores

A última visão que tive doeu mais do que a tesoura fincada em meu peito: aqueles olhos negros me perfuraram além do físico. Talvez meu coração tenha parado de lutar por causa do ódio fuzilante que me penetrava, e não pelo frio objeto de metal.
Sempre soube que tal romance não daria certo. Mas, quem poderia imaginar que a insanidade de Gabriel chegaria a tal ponto?
Mesmo sentindo que ele era um pouco instável, qual menina consegue resistir aos encantos do galã mais disputado do Rio de Janeiro? Bom, não eu. Tão nova, inexperiente, inocente. Dizer que foi ruim seria mentira. Nos primeiros meses ele me fez sentir uma rainha, uma deusa. Carinhoso e atencioso, todas as qualidades que eu sempre colocara no meu príncipe encantado encarnaram naquele homem que enfim me pediu em casamento. Meu Deus, era eu a garota mais sortuda do mundo? Hoje posso perceber que fui a mais azarada.
O que acontecera naquela mente para fazê-lo ver tudo com malícia? Será que ele não percebia que só ele importava para mim? Eu abandonaria família e amigos para tê-lo eternamente ao meu lado. Mas sua cegueira o fez agir estupidamente. Primeiro as discussões, as proibições, a infelicidade e no primeiro tapa, eu fugi. Sem rumo, com o coração despedaçado, achei em Deus meu único refúgio, minha salvação.
E após três anos acreditei estar segura na pequena cidade de Santarém, e pude respirar aliviada: amanhã completaria 28 anos de existência, quatro anos de vitória.
A simplicidade trouxa para mim a felicidade. Resolvi comemorar minha folga em meio às flores. Não podia prever a visita.Ele entrou caminhando tranquilamente, com roupas sofisticadas, porém com a aparência de um mendigo. Cheirara a fumo e bebida. Não era o mesmo Gabriel que havia ficado na minha mente, muito menos aquele pelo qual eu me apaixonara. Falou o tempo todo com um rancor contido, e eu simplesmente emudeci, sem saber como responder às suas acusações. -Você estragou minha vida, nada mais justo do que eu retribuir, não acha amor? A propósito, feliz aniversário – concluiu meu assassino com um sorriso de escárnio. E, sem tirar a mão do crucifixo, deixei o mundo com uma lágrima não derramada, e sem mais esperanças de Céu ou Inferno: Apenas acabara.

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Essa narração foi feita a partir de uma proposta de redação da minha apostila (:

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