6.3.10

As Cavernas dos Dias Atuais

Hoje, com toda a liberdade e variedade que a globalização nos trouxe, podemos até escolher em qual caverna queremos viver. Podemos ver o mundo através da televisão, e conhecer a Índia como um país cheio de pessoas revolucionárias e ricas, condições de higiene e saúde dignas de um país de classe. Nos emocionarmos com as casas que as pessoas ganham por causa da compaixão dos apresentadores de televisão, e ignorar os vizinhos pobres que aparecem felizes da vida no fundo da câmera. Fazer uma pequena doação financeira para demonstrar o quanto os milagres que acontecem – e a sua freqüência quase absurda – fazem sua fé se fortalecer.
Agora, se você é uma pessoa mais cultural, os jornais e revistas são cavernas tão arrumadas que nem parecem cavernas. É tanto ponto de vista criticando e expondo a sociedade que você quase acredita que os interesses da editora não estão envolvidos na verdade da notícia.
Há espaço também para os mais modernos, que passam o dia navegando na internet. Tão simples ver a realidade, conseguir um milhão de informações em um segundo, enquanto nos lugares em que os humanos mais precisam de humanos não tem nem energia elétrica.
E os habitantes de países desenvolvidos – até mesmo os de países sub-desenvolvidos com pinta de desenvolvidos -, que se orgulham da sua ciência, da sua tecnologia. A mesma ciência que mata as florestas, que usa seus animais para empirismo. A mesma tecnologia que produz armas cada vez mais sofisticadas, obtidas através de mais valia descarada e digna de escravidão.
Enquanto o mundo se balança entre os obesos americanos e os esqueléticos africanos, a caverna do cinema enche nossos olhos com aventuras envolventes e romances impossíveis.
A caverna do IDH brasileiro, alcançando níveis de países de “primeiro mundo” e enchendo o país de analfabetos funcionais.
A caverna dos revolucionários, que pagam R$100,00 para ir num show punk e gritar contra o governo e o capitalismo, e de quebra passam numa mega store para adquirir uma tiragem exclusiva de camisetas do Che Guevara.
E o homem vai viajando para além das cavernas na Terra, explorando o universo, sem perceber que a viagem mais difícil é a para dentro de si mesmo; é vencer a nossa própria caverna.

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